Todas as coisas e
todas as chances quero ter. Se não tiver darei um jeito de roubar. Roubar de um
jeito que cause dependência, sem telefone e sem sapatos. Te mostrarei coisas,
te tirarei coisas, quero ter parte de mim em ti nem que amanhã a passagem de
volta já esteja comprada. Quero pagar pra ver
pelo preço que for, pra onde eu tiver que ir, pra onde quiser me levar.
Todas
as notícias são boas até as de despedidas. Dependendo pra onde se está indo
embora. Até aqui estou sendo uma boa menina, agora quero a minha recompensa,
pra começar a uivar. Chega de ver o que
ainda não chegou, quero enfim te conhecer de olhos fechados e te reconhecer
pelas mãos. Assanha meu cabelo, mas pode tocar meu rosto enquanto durmo. Sei
onde estou e é lá, aqui ou acolá… não importa. É onde quero ficar mesmo que
essas quatro paredes rapidamente desmoronem.
Eu posso me lembrar de
tudo, mas antes quero sentir o gosto do medo que eu tanto quero sentir. As
dicas já têm: podemos ir pelas escadas, pode sentar no sofá enquanto tomo banho
e se eu estiver dormindo minha mãe me acorda. Já contei dias e
risquei calendários, todas as vezes que paro é pra ligar o computador. Vi
rostos e beijei lábios, mas não vi nada em seus ombros.
Na janela do ônibus
procuro o rosto parecido dentro dos carros, há dias vou à mesma rua pra lembrar
de quando me abria o portão. Quero o dia que feche
a porta só não apaga a luz. Segura e aperta a minha mão, te puxarei daí e te
trazer pra mim com todo meu querer sem me importar com possíveis desastres
evidentes. Esmurrei o medo e ele correu.
Jéssica Alves